Encurralado pelos escândalos que o ligam ao financiamento do narcotráfico, o ultradireitista José Luis Espert apresentou neste domingo (5) sua renúncia como candidato a deputado nacional pela estratégica província de Buenos Aires, capital argentina.
A decisão ocorre depois de o governo de Javier Milei ter tentado, por todos os meios, conter a crise que havia estourado. Durante uma semana, seus porta-vozes oficiais — incluindo o próprio presidente — insistiram que não retirariam Espert da lista.
No entanto, a crescente indignação social, as pressões da oposição política e a incapacidade do governo e do próprio candidato de explicar o dinheiro recebido de um empresário investigado por narcotráfico nos Estados Unidos acabaram gerando uma gangrena política que tornou insustentável sua permanência na lista.
Por meio de uma longa publicação na rede social X (antigo Twitter), o próprio Espert comunicou que havia colocado sua renúncia à disposição do presidente, que a aceitou. Sem oferecer uma explicação sobre as gravíssimas acusações contra si, desconsiderou-as, afirmando que se trataria de uma operação “sustentada por um implacável julgamento midiático” contra sua figura, e assegurou que “as explicações necessárias serão dadas no momento oportuno e no âmbito correspondente”.
Dessa forma, a apenas vinte dias das eleições legislativas de meio de mandato, La Libertad Avanza (LLA) perde seu principal candidato — e uma das figuras mais conhecidas da ultradireita — no distrito eleitoral mais importante do país. Um verdadeiro terremoto político que atinge em cheio o governo Milei, que, no último ano, passou de escândalo em escândalo, perdendo apoio popular.
Espert e o vínculo com o narcotráfico
Há anos, José Luis Espert vem sendo apontado por seus supostos vínculos com o narcotráfico. No entanto, no último fim de semana, as acusações escalaram consideravelmente, após a revelação de que o economista recebeu uma transferência de US$ 200 mil de Federico “Fred” Machado — empresário acusado nos Estados Unidos de crimes relacionados ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro.
A informação sobre a transferência — que teria ocorrido em fevereiro de 2020 — foi obtida por meio de perícias contábeis incorporadas ao processo judicial em curso na Justiça Criminal do Distrito Judicial Leste do Texas, onde “Fred” Machado — junto a outros oito envolvidos — é investigado como suposto integrante de uma rede internacional de narcotráfico.
Os documentos indicam que os US$ 200 mil dólares entregues a José Luis Espert provinham do trust Aircraft Guarantee Corporation, administrado por Machado juntamente com sua sócia, a estadunidense Debra Lynn Mercer-Erwin, atualmente cumprindo pena de 16 anos de prisão por lavagem de dinheiro.
Acusado formalmente de integrar “uma conspiração para produzir e distribuir cocaína” como parte de uma sofisticada rede de operações dentro do Cartel de Sinaloa, “Fred” Machado, de 57 anos, é proprietário da empresa South Aviation, com sede na Flórida (EUA). Após fugir do Texas em 2020 — em uma tentativa de escapar da Justiça — Machado permanece em prisão domiciliar na Argentina desde 16 de abril de 2021, após ser detido em decorrência de um alerta vermelho da Interpol.
Desde então, a Justiça dos Estados Unidos tem solicitado sua extradição, que depende da aprovação da Suprema Corte da Argentina. No entanto, em uma postergação sem precedentes, o tribunal máximo vem adiando a decisão.
Segundo as investigações em andamento, Machado — por meio de sua empresa de aviação — se encarregava de adquirir aeronaves e ocultar sua propriedade por meio de registros falsos para o transporte internacional de entorpecentes. As autoridades o vinculam a duas operações-chave: mais de 1.500 quilos de cocaína encontrados em um avião abandonado no México e um carregamento de 2,5 toneladas interceptado na Guatemala.
Os vínculos entre Espert e Machado tornaram-se públicos em 2019. Na época, o candidato presidencial utilizou um jato particular do empresário para viajar a Viedma, onde lançou seu livro A sociedade complicações. Agradecendo publicamente o apoio de Machado, o episódio ficou registrado em fotografias. Durante aquele ano, a Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA) registrou 36 voos realizados por Espert em aeronaves “emprestadas” por Machado, dos quais, em pelo menos cinco, viajou acompanhado pelo empresário acusado de crimes relacionados ao narcotráfico. Coincidentemente, desde então, Espert multiplicou de forma exponencial seu patrimônio pessoal.